segunda-feira, 13 de abril de 2020

Yuval Harari: 'Brasil pode contrabalançar poder de EUA e China'

Vindo ao país pela primeira vez (em 2019), o autor de ‘Sapiens’ falou sobre riscos da tecnologia e a onda antiglobalização.

Yuval Noah Harari chegou ao Brasil em 2015 — não pessoalmente, mas na lista de livros mais vendidos. Foi com “Sapiens: Uma breve história da humanidade” (L&PM), best-seller mundial que combinava paleontologia, neurociência e biologia evolutiva em um texto com ritmo de thriller e recheado de anedotas.

Desde então, o título segue no ranking, assim como “Homo Deus: Uma breve história do amanhã” (2016) e “21 lições para o século 21” (2018), ambos da Companhia das Letras.

A seguir, alguns trechos da entrevista que Harari concedeu ao Jornalista Emiliano Urbim, de O GLOBO, quando de sua primeira visita ao Brasil, no ano passado.

A que você atribui o interesse duradouro dos leitores brasileiros em seus livros?

Os brasileiros sabem que seu destino depende dos acontecimentos locais, mas também questões globais, justamente os temas que abordo e tornam meus livros populares. Em décadas recentes, o Brasil ganhou muito com a globalização, mas agora uma guerra comercial mundial pode destruir sua economia. O aquecimento global ameaça a ecologia do seu país. A revolução da inteligência artificial (IA) pode trazer desigualdade sem precedentes, beneficiando outros países em detrimento do Brasil.

Qual sua expectativa para a primeira vinda ao Brasil?

Espero que minha visita me permita compreender melhor o Brasil. É um dos países mais importantes do mundo, pode ajudar a contrabalançar as tendências perigosas que vemos agora nos EUA e na China. Então, estou muito interessado em aprender como os brasileiros estão lidando com a atual crise global.

Em “Sapiens” você diz que, desde a pré-História, não temos estilo de vida natural, mas escolhas culturais. Qual deve ser nossa próxima grande escolha cultural?

Vamos enfrentar decisões difíceis sobre a maneira de usar IA e aprimoramentos do corpo possíveis com a biotecnologia. Será que todos vão se beneficiar destas novas ferramentas? Ou estes avanços serão usados para construir ditaduras que empoderam apenas uma pequena elite e escravizam todo o resto? Isso depende das escolhas que fizermos nas próximas décadas.
ssário, segundo os autores, dissecar mais animais para confirmar os resultados Foto: Reprodução

Em “21 lições para o século 21”, você imagina a civilização em um evolução conjunta. Movimentos como o Brexit e o isolacionismo de Trump são tendências em contrário?

Estamos realmente vendo uma reação contra a globalização. Se o isolacionismo triunfar, será uma catástrofe. Sem cooperação global, a humanidade não terá como prevenir mudanças climáticas. Nenhum governo vai poder controlar os novos poderes da tecnologia sozinha, porque nenhum controla todos os cientistas e engenheiros do mundo.

Há um equilíbrio entre nacionalismo e globalismo?

Espero que sim. O nacionalismo ainda tem um papel positivo no mundo, mas não precisa se opor à cooperação mundial. Nacionalismo não é odiar estrangeiros, é amar os seus compatriotas. E, no século XXI, para garantir a segurança e prosperidade dos seus compatriotas, você deve cooperar com os estrangeiros.

Como você acha que a comunidade científica deve agir no momento em que forças obscurantistas chegam ao poder?

É preciso informar o público e ter muito cuidado com o poder. Especialmente quando estiverem desenvolvendo novas tecnologias, eu pediria aos cientistas que pensassem no político que mais temem e se perguntassem: “o que ele pode fazer com a tecnologia que eu estou desenvolvendo?”.

O GLOBO
13/09/2019 - 04:30 / Atualizado em 10/02/2020 - 11:05

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