quinta-feira, 16 de abril de 2020

O que acontecer de bom ou de mal daqui para frente deverá ser debitado unicamente na conta de Bolsonaro.

Jogo com a vida dos outros

Jair Bolsonaro e o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (Isac Nóbrega/PR)


Advinha se gosta de mim

Como Donald Trump, Jair Bolsonaro é um jogador. A diferença é que Trump, se não tem cartas fortes para ganhar uma parada, e blefar não lhe parece o melhor caminho, recua para não se arriscar a perder mais fichas do que tem. Detesta perder dinheiro.

Bolsonaro, não. Blefa sempre. Blefa até quando não se dá conta de que está blefando. Sempre joga para ganhar, quebrar a banca. Às vezes, ganha. Quando perde, perde muito, mas continua jogando, com a esperança de reaver o que perdeu.

Em meio a uma pandemia, quando mais de 70% dos brasileiros dizem apoiar medidas de isolamento, Bolsonaro se opõe às medidas e as sabota. Quando a vida, em toda parte, é posta em primeiro lugar, ele põe a economia em primeiro lugar.

Para um presidente, nada melhor do que dispor de um ministro bem avaliado pela população à frente do combate ao que ele já chamou de “o maior desafio” da sua geração. Por ciúmes, Bolsonaro demite o ministro e detona mais uma crise fora de hora.

O ex-ministro Luiz Henrique Mandetta irá para casa levando com ele tudo o que se fez até agora para deter o mais perigoso inimigo da humanidade neste início de século – e não foi pouco, e foi o que se poderia fazer sem maiores recursos.

O que acontecer de bom ou de mal daqui para frente deverá ser debitado unicamente na conta de Bolsonaro.

Ricardo Noblat é o editor do primeiro blog brasileiro com notícias e comentários diários sobre o que acontece na política. No ar desde 2004. Este artigo foi publicado originalmente em Veja.com. / Atualizado em 16 abr 2020, 17h52 - Publicado em 16 abr 2020, 17h50.

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