quarta-feira, 29 de abril de 2020

Mendonça assume Justiça e fará limpa em ‘República de Curitiba’

Nomes que chegaram à pasta com Moro já colocaram o cargo à disposição; novo ministro prepara outras mudanças

O presidente Jair Bolsonaro colocou em prática na terça-feira, 28, seu plano de mudar o comando da Polícia Federal ao confirmar as nomeações de Alexandre Ramagem como diretor-geral do órgão e de André Mendonça como ministro da Justiça e Segurança Pública. 

Ao deixar a pasta, na semana passada, Sérgio Moro acusou o presidente de tentar interferir nos rumos de investigações e ter acesso a relatórios sigilosos justamente colocando alguém de sua confiança no comando da corporação. Um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) foi aberto para apurar as denúncias.

andre luiz almeida mendonca

Novo ministro da Justiça e da Segurança Pública, André Mendonça é auxiliar de confiança de Jair Bolsonaro Foto: Dida Sampaio / Estadão

Na terça-feira à noite, ao retornar ao Palácio do Alvorada, Bolsonaro disse que cobrava de Moro relatórios de inteligência, e não informações sobre inquéritos. “Eu sempre cobrei dele relatórios de inteligência. Eu tinha de saber o que aconteceu no último dia para eu também informar no dia seguinte. E ele sempre negou isso daí. Eu não quero saber de inquérito de ninguém”, disse o presidente.

Ramagem foi segurança de Bolsonaro durante a campanha eleitoral e entrou para o rol de auxiliares de confiança do Planalto com o apoio do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). A sua nomeação para a direção da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), cargo que ocupava até anteontem, é atribuída ao filho do presidente.

Antes da demissão, Bolsonaro ainda tentou convencer Moro a aceitar a troca de Maurício Valeixo, aliado do ex-ministro dos tempos de Lava Jato, por Ramagem. Não conseguiu. Auxiliares próximos chegaram a alertar o presidente de que manter o plano de nomear o aliado na direção da PF seria uma manobra arriscada, pois daria razão às acusações do ex-juiz.

No caso de Mendonça, embora a escolha do ex-advogado-geral da União tenha sido considerada no meio político e jurídico um boa jogada de Bolsonaro, ele chega ao cargo enfraquecido, pois já assume sem o direito de indicar o diretor-geral da PF, um dos braços mais importantes da pasta. Desde o governo de Fernando Henrique Cardoso que esta é uma função do ministro da Justiça.

Interlocutores do presidente afirmam ter a expectativa de que Mendonça ponha fim à “República de Curitiba” levada por Moro ao ministério, com vários postos ocupados por egressos da Lava Jato. Por enquanto, Mendonça ainda não sinalizou as mudanças. Entretanto, nomes ligados a Moro já colocaram cargos à disposição, como o secretário Nacional do Consumidor, Luciano Timm; Vladmir Passos de Freitas, secretário Nacional de Justiça; Rosalvo Franco, secretário de Operações Integradas, e Fabiano Bordigon, chefe do Departamento Penitenciário Nacional (Depen).

Outra mudança esperada é na Secretaria Nacional de Segurança Pública, área em que Mendonça não tem experiência. Chegou a ser discutido um desmembramento da pasta, o que não deve ocorrer por enquanto. A expectativa é que o posto seja entregue ao secretário de Segurança do Distrito Federal, Anderson Torres. A exemplo de Mendonça, Torres é próximo do ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, que também chegou a ser cotado para a vaga na Justiça.

Perfil

O ex-AGU blindou o presidente das críticas se tivesse optado por Oliveira, que é próximo da família. Na avaliação do governo, a indicação de Mendonça também tirou o foco da nomeação de Ramagem.

Outra vantagem apontada é que o novo ministro da Justiça tem bom trânsito com os ministros do Supremo e terá o papel de minimizar as rusgas do Executivo com o Judiciário. “O homem certo, no lugar certo, no momento certo”, disse ontem o ministro Ricardo Lewandowski ao comentar a nomeação.

De acordo com interlocutores do presidente, a chegada de Mendonça ao Ministério da Justiça também pode deixar o Oliveira mais próximo da primeira vaga que será aberta no Supremo em novembro, com a aposentadoria do ministro Celso de Mello.

Após ser confirmado na cargo, Mendonça usou o Twitter para agradecer ao presidente. “Meu compromisso é continuar desenvolvendo o trabalho técnico que tem pautado a minha vida. Conto com o apoio do povo brasileiro!”

Jussara Soares, O Estado de S.Paulo
29 de abril de 2020 | 05h00

Nenhum comentário: