segunda-feira, 30 de março de 2020

Estudo mostra que isolamento social leva à recuperação econômica mais rápido

Economistas brasileiros dizem que a opção de isolamento seletivo, como propõe o presidente Jair Bolsonaro, é impossível de ser praticada no Brasil e que é melhor não arriscar. 

Quanto mais rápido se controlar a epidemia, melhor para economia, avaliam.

Na gripe espanhola, produção industrial e emprego se recuperaram com mais força em cidades dos EUA que aderiram ao isolamento

Estudo recente de pesquisadores do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) mostra que a adoção de medidas restritivas é melhor para a recuperação econômica. O estudo, que teve como foco a gripe espalhola de 1918, revela que as cidades americanas que aderiram ao isolamento social se recuperaram mais rapidamente.

Intitulado "Pandemics depress the economy, public health interventions do not: evidence from the 1918 flu”, o estudo menciona as chamadas intervenções não farmacêuticas (NPIs em inglês), como o distanciamento social.

Localidades que adotaram essas medidas dez dias antes da chegada da pandemia tiveram um aumento de 5% no emprego industrial, em 1919, em relação à média analisada. As que mantiveram essas medida por mais 50 dias viram o emprego crescer 6,5% no mesmo período.

"Ao comparar a velocidade e a agressividade das NPIs, concluímos que elas não pioram o queda da economia. Ao contrário, as cidades que intervieram antes e de forma mais agressiva tiveram aumento relativo no emprego do na indústria, na produção industrial e nos ativos bancários", dizem os autores.

Quem assina o estudo são os especialistas Sergio Correia, do board do Fed; Stephan Luck, do Fed de Nova York; e Emil Verner, do Massachusetts Institute of Technology (MIT).

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Monica de Bolle, diretora de estudos latino-americanos e mercados emergentes da Johns Hopkins University, alerta que a contaminação vai explodir, o sistema de saúde não vai dar conta, criando um caos social, na hipótese do isolamento parcial:

- O Brasil vai parar, sobrecarregar o sistema de saúde, pessoas não vão ter atendimento. Um infartado que chegue ao SUS não vai conseguir ser atendido. Isso vai gerar um pânico na sociedade quando essa onda chegar. Olha Nova York, Espanha, Itália. Vai ser devastador para economia. Cerca de 20% dos doentes vão precisar ser internados. É muita coisa, a metade desses vai precisar de algum tipo de auxilio médico intensivo, uma UTI, é quadro de absoluto colapso do sistema de saúde se não tentar desacelerar a contaminação.

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A economista afirma que é falsa a escolha entre salvar vidas e a economia. Não existe essa opção, na opinião dela. Não fazer a quarentena vai levar ao colapso de tudo, inclusive da própria economia. 

- De repente, os casos explodem, o SUS vai entrar em colapso, as pessoas vão ficar em pânico, haverá caos social, político e institucional. Como uma economia pode resistir a isso.

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O economista Marcelo Medeiros, professor visitante da Universidade de Princeton, diz que, quanto mais rápido assegurar o isolamento, controlando a epidemia, menos perdas econômicas vão acontecer. Ele vive atualmente em Nova York, local que reúne o maior número de casos dos Estados Unidos.

- Se deixar a epidemia se espalhar, perde-se o controle e depois vai ter que isolar todo mundo por muito mais tempo. A economia vai ficar muito mais tempo parada.

Gripe espanhola

Ele cita o estudo do Fed que mostra que as cidades que controlaram mais rapidamente a gripe espanhola em 1918 se recuperaram da recessão antes.

- Poderemos ver isso na Alemanha, que está investindo tudo para controlar a epidemia. Ela vai se recuperar antes e ter uma vantagem competitiva no cenário global por razões óbvias. Quem está vendo o controle da epidemia como investimento, como a França e a Alemanha, vão se recuperar mais rápido.

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Quem optar por um discurso mais político, como Donald Trump e o presidente Jair Bolsonaro, vai ser culpado lá na frente:

- O Trump já até mudou de posição.  Vai ser um baque quando a sociedade começar a perder talentos da ciência, das artes,  da politica.

O controle necessário para fazer o isolamento vertical no Brasil, um país de dimensões continentais, não é simples, de difícil operação, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, 

- Sociedades centralizadas como a coreana conseguem fazer, mas países do tamanho e complexidade do Brasil, acho muito difícil. Também precisaria haver testagem maciça da sociedade, o que não parece acontecer no momento. Assim, é melhor permanecer o confinamento horizontal.

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Margarida Gutierrez também não vê como será possível pôr em operação um processo de isolamento seletivo, em comunidades carentes como as dos Rio de Janeiro, um dos epicentros da doença no Brasil:

- O Rio de Janeiro é cercado de comunidades. Na classe média, ainda dá para fazer esse distanciamento (dos mais vulneráveis como idosos e doentes crônicos). Vai ficando mais difícil nas casas de classe média baixa e nas comunidades, não dá. Vão tirar os mais vulneráveis de onde estão_ pergunta.

É uma escolha moral muito mais que econômica, diz Armando Castelar, da Fundação Getulio Vargas (FGV)

- O custo no número de vidas é pesadíssimo. Reino Unido (que cogitou adotar o isolamento vertical) voltou atrás depois que o número de casos explodiu. Dependendo do tamanho da crise, pode significar uma bagunça (na economia) ainda maior (que o isolamento total). Na Itália, estão escolhendo os pacientes por chance de sobrevivência.  Atrasar tem a vantagem de se dar tempo para descobrir a vacina.

Marcos Lisboa, presidente do Insper, diz que é hora de ouvir os técnicos, os cientistas. 

- A hora é de dados, de evidência, de ciência, para que a política possa tomar decisões. Não se pode tomar decisões com base em palpite. O risco é de quem não faz parte do grupo de risco adoecer e ter congestionamento nos hospitais. Nossa capacidade hospitalar é muito limitada. É uma parte vai precisar de cuidado.

Estudo mostra que isolamento social leva à recuperação econômica mais rápido

Na gripe espanhola, produção industrial e emprego se recuperaram com mais força em cidades dos EUA que aderiram à medida

A alternativa de manter somente as pessoas idosas e com doenças crônicas em casa, o chamado isolamento vertical, suspendendo a quarentena para todo mundo, pode ter efeito mais danoso à economia do que a recessão causada pelo distanciamento total, recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Estudo recente de pesquisadores do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) mostra que a adoção de medidas restritivas é melhor para a recuperação econômica. O estudo, que teve como foco a gripe espalhola de 1918, revela que as cidades americanas que aderiram ao isolamento social se recuperaram mais rapidamente.

Intitulado "Pandemics depress the economy, public health interventions do not: evidence from the 1918 flu”, o estudo menciona as chamadas intervenções não farmacêuticas (NPIs em inglês), como o distanciamento social.

Localidades que adotaram essas medidas dez dias antes da chegada da pandemia tiveram um aumento de 5% no emprego industrial, em 1919, em relação à média analisada. As que mantiveram essas medida por mais 50 dias viram o emprego crescer 6,5% no mesmo período.

"Ao comparar a velocidade e a agressividade das NPIs, concluímos que elas não pioram o queda da economia. Ao contrário, as cidades que intervieram antes e de forma mais agressiva tiveram aumento relativo no emprego do na indústria, na produção industrial e nos ativos bancários", dizem os autores.

Quem assina o estudo são os especialistas Sergio Correia, do board do Fed; Stephan Luck, do Fed de Nova York; e Emil Verner, do Massachusetts Institute of Technology (MIT).

Fonte: Cássia Almeida, de O GLOBO.

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