domingo, 4 de dezembro de 2016

Gullar acima do chão

Ferreira Gullar, um dos nossos mais inspirados e inspiradores poetas, despertou, aos 86 anos de idade,  na manhã de domingo ultimo, de estar acordado.

Nascido em Sao Luis do Maranhao, onde viveu livremente a sua adolescência, integrou ali um movimento cultural de jovens chamado Movelaria, assim conhecido porque os encontros aconteciam numa loja de móveis na Rua da Paz. Ou dos Afogados. Não me lembro bem.

Dentre aqueles jovens estavam Sarney e Oliveira Bastos, este oriundo de Belém do Pará. 

Foi quando o suplemento literário do jornal A Pacotilha dando espaços aos moços publicava também os sonetos de um sonetista chamado Ribamar Pereira, o qual por óbvio, não pertencia àquele movimento. 

Dando um basta à confusão que pintou na província com os três Ribamar,  dos quais dois quase homônimos - um Jose Ribamar chamado Ferreira de Araújo Costa e outro José Ribamar Goulart Ferreira, - os dois resolveram entre si que um passaria a chamar-se José do Sarney, referencia ao prenome do pai e depois José Sarney, passando o outro José Ribamar a chamar-se Ferreira Gullar assim mesmo com dois elles, isso tudo para que não houvesse mais nenhuma dúvida com o apreciado autor dos sonetos à moda antiga. Ribamar Pereira tinha o seu público e aparecia sempre de terno claro e gravata borboleta. 

Eu aqui, Edson Vidigal, ainda garoto prestes a ingressar no movimento estudantil, que me credenciaria depois à prisão e à cassação pelo regime militar, fui num cair de tarde assistir na Praça João Lisboa, próximo ao monumento do nosso grande jornalista e historiador do Jornal de Timon, a uma palestra do Gullar sob o tema Cultura Posta em Questão, na verdade o título de um livro que o autor lançava na ocasião.

Décadas depois, eu já ex-Deputado Federal, que lutara pela anistia e volta dos exilados, estive mais próximo de Gullar no Teatro Artur Azevedo na noite em que lançou a primeira edição de Toda Poesia.

A última vez que nos vimos foi na varanda do hotel do Moacir, em frente ao mar trazendo os ventos da baía de São Marcos, quase amanhecendo, incursionando pelo tropicalismo. 

Gullar foi parceiro de Caetano Veloso naquele primeiro disco que tem capa de Rogério Duarte. Os versos de Gullar na canção de Caetano tem o título de Onde Andarás.

Entre um gole e outro de cerveja, batucamos na mesa cantando - "onde andarás nesta tarde vazia / tão clara e sem fim/ enquanto o mar bate azul em Ipanema / em que bar, em que cinema / te esqueces de mim..."

(...) E é por isso que eu saio pra rua / na esperança, talvez, de que o acaso / por mero descaso/ me leve a você (...)

poeta Fernando Pessoa se indaga num poema - quando despertarei de estar acordado? Ferreira Gullar, um dos nossos mais talentosos poetas, despertou, aos 86 anos de idade, de estar acordado. 

Sua primeira incursão na poesia foi "Um Pouco Acima do Chão". Depois, "A Luta Corporal".
A partir daí deslanchou até o "Poema Sujo", mais que uma canção de exílio, um revoltado conquanto telúrico Manifesto da Volta.

Um comentário:

João Luiz Pereira Tavares disse...

Gullar foi muito criticado por blogs comunistas e até pelo PETISMO...

Bom.., mais grave, mas grave mesmo!, é o seguinte:

O PT é trapaceiro; velhaco; astuto; dissimulado; impostor; fingido; patife; porra-louca; charlatão; caluniador; falsários; hipócrita; enganador; mau-caráter; explorador; chicaneiro; truculento; tratante; nocivo; esquerdalha; difamador; picareta; embusteiro; burlão, choramingas e VIGARISTA. Tudo ao mesmo tempo. Ponto final.