quinta-feira, 23 de julho de 2015

Alérgicos a dinheiro

Se alguém te fala sobre alergia a dinheiro, não levas na troça porque pode ser verdade.
Há quem não saiba que, afora o dinheiro sujo, aquele obtido a partir de atividades ilegais que nem essas que tem dominado o noticiário e causado essa ira popular contra parlamentares e governantes brasileiros o dinheiro de origem legal, obtido em recompensa de trabalho honesto, pode conter bactérias tão nefastas ao ponto de adoecer seriamente quem o embolsar.
Até agora não se sabe de algum político que tenha que sido diagnosticado com intoxicação alimentar grave causada por estafilococo encontrável em cédulas ou moedas.
Eu também não sabia que o nosso dinheiro, e no caso tanto o sujo oriundo do tráfico, da corrupção nos governos e nos parlamentos, do contrabando de armas, das extorsões ou fraudes fiscais, quanto o obtido no exercício transparente de  profissão legal e regulamentada, tanto um quanto o outro, ambos do mesmo fabricante, no caso a Casa da Moeda, o dinheiro que a gente considera limpo também é sujo, embora no outro sentido, eis que dá carona a 50 microrganismos por centímetro quadrado.
O perigo mora mais perto de quem gosta tanto de dinheiro que ao tê-lo em mãos não resiste a alisá-lo esfregando-o com uma forma especial de prazer quase beirando a libidinagem.
Quando começou no Brasil essa conversa de lavagem de dinheiro, a Luísa, filha do Gilson, àquela altura uma guria que gostava muito de lidar com a lógica,  ao ser instada sobre a novidade, não se fez de rogada. Foi à pia da lavanderia com uma cédula de dez reais e a lavou literalmente. Com agua e sabão.
Em meio aos estouros de tantos propinodutos e às certezas de outros que ainda vão estourar, e quando se somam os roubos só se fala em bilhão para cá e bilhão para lá, mais em dólares do que em reais, pois não é que também o Banco Central do Brasil está sem dinheiro?
Muito das reservas em dólares foram jogados em operações comuns nas tentativas de impor freios às escaladas do dólar. Por outro lado, o Governo cortou 66% da verba para investimentos da Casa da Moeda, que fabrica o dinheiro, provocando, assim, a falta de cédulas de valores mais populares e de moedas na circulação.
De algum modo, a falta do chamado papel moeda em valores maiores e também das moedas propriamente ditas se harmoniza com o crescimento do desemprego. Como canta Martinho da Vila, dinheiro, para que dinheiro? (...)
O desemprego marcha em passos largos para chegar aos dois dígitos, ou seja, ao mínimo de 10%, até o fim deste ano. E aí camarada, o que pode acontecer? O americano tem por habito peruar um peru pelo ano inteiro para comê-lo entre a família no Dia de Ação de Graças. E você aí, vai poder mandar para a panela ou forno a sua galinha para a noite do Natal?
Enquanto isso, ou entrementes, como nas histórias em quadrinhos, seguem as mazelas.
Em cada canto para o qual olhares reparando bem verás mazelas. A reforma política não é para melhorar a política, mas eleitoral em favor dos mesmos. O Governo não governa porque a Presidente segue subindo em rejeição popular, arrastando o custo de vida a inflação de dois dígitos, levando o País aos piores níveis de desconfiança dos investidores internacionais. E tal.
No Maranhão, ainda toca no rádio João do Vale enaltecendo as coisas boas da terra – “Ainda ouço inté o jornaleiro a gritar / Imparcial, Diário, olha o Globo / Jornal do Povo descobriu outro roubo...” Era o jornal do Neiva Moreira, - contra a opressão e a injustiça social - sempre inspirador na Oposição, incendiado nas primeiras horas do golpe militar.
Como a esperança ainda não morreu, resta-nos o Jornal Pequeno. 

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