quinta-feira, 8 de maio de 2014

Sentimentos

Chamamos de inocência aquele estado de graça único a nos manter imunes a um dos piores sentimentos perturbadores da alma humana - o sentimento de culpa.

Seríamos seres bem melhores se não nos sentíssemos culpados. Ou se reconhecendo nossas culpas fôssemos capazes de nos purgar, nos libertando verdadeiramente delas.

A culpa não se confunde com o dolo.

A ciência do direito, por exemplo, só considera culpa o dano que deriva da imperícia, da imprudência ou da negligencia.

O dolo se configura quando a ação danosa decorre de uma engendração movida pela perversidade mental, ou seja, pela vontade consciente de realizar a maldade.

Por exemplo, é pura maldade manter atarantados na caatinga da ignorância dois terços de uma população quando se tem o poder político nas mãos.

A liberdade não se realiza apenas pelo movimento físico das pernas indo ou voltando.

Os escravos também têm pernas e andam. São escravos porque mesmo sabendo andar e podendo olhar seguem aprisionados pela força do poder que os mantém enjaulados na própria ignorância.

E assim, como os déspotas fazem com a maioria do nosso Povo – quanto mais analfabetos, mais ignorantes. E quanto mais ignorantes, mais manipuláveis. Como o voto da maioria inconsciente é igual ao voto da minoria consciente, prorroga-se a pobreza social e o atraso econômico.

Os mandões no plantão mandam para as calendas a Democracia e para o inferno das pedras qualquer ideia de Republica.

Mas, de que valem a um Estado que pretendemos republicano e democrático essas multidões famintas dos seus direitos humanos e sedentas de justiça social?

De nada quase vai nos servir agora olhar para trás e só apontar culpados. Isso só não basta. Pesquisar a história é da maior importância.

Assim falou Santayana, o filósofo - quem não aprende com a história, estará sempre condenado a vivê-la outra vez. A nossa história tem sido frustrante e horrível. E o seu emaranhado de descasos e locupletamentos ainda não acabou.

Eles, os donos do poder, tentam reescrever a seu modo a história do tempo nosso que atiraram ao desperdício e nós aqui parecemos não nos importar.

Também por isso, reparando bem, todos nós somos culpados. Na data de hoje ainda somos culpados.

Todos nós somos culpados, no mínimo, pela imprudência de alguns movidos pelo oportunismo pessoal ou pela negligencia de muitos que ainda se alheiam ou pela imperícia de outros que se deixam iludir por miríades.

Enfim, todos nós temos contribuído, ingenuamente ou não, para que não aconteça de forma verdadeira a alternância no poder politico. Alternância tão reclamada conquanto urgentemente necessária.

Nossa boa fé, excessiva talvez, alertou os demônios da manipulação politica e lá se foi a nossa inocência se achando a serviço do bem, mas na verdade contribuindo em favor do mal. Somos culpados? Sim, contribuímos. Não negar isso ajuda a purgar a culpa.

Não são culpadas as multidões que somam a grande maioria entre os que têm o direito ao voto. Para durar tanto, o poder politico foi tangendo essas pessoas, como se fosse gado, para bem longe da verdade, isto porque eles, os poderosos e suas  poderosas, mesmo não sendo nada sentimentais, não são idiotas de não saberem que só a verdade liberta.

Daí o seu enorme arsenal de mentiras e suas trombetas eletrônicas a disseminarem calunias, injúrias, difamações e intrigas contra os que ainda ousam desafinar no coro dos descontentes.

Como dizem os portugueses num antigo provérbio, - quem viver, verá!


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