Chamamos de inocência
aquele estado de graça único a nos manter imunes a um dos piores sentimentos
perturbadores da alma humana - o sentimento de culpa.
Seríamos seres bem
melhores se não nos sentíssemos culpados. Ou se reconhecendo nossas culpas
fôssemos capazes de nos purgar, nos libertando verdadeiramente delas.
A culpa não se
confunde com o dolo.
A ciência do direito,
por exemplo, só considera culpa o dano que deriva da imperícia, da imprudência
ou da negligencia.
O dolo se configura
quando a ação danosa decorre de uma engendração movida pela perversidade
mental, ou seja, pela vontade consciente de realizar a maldade.
Por exemplo, é pura
maldade manter atarantados na caatinga da ignorância dois terços de uma população
quando se tem o poder político nas mãos.
A liberdade não se
realiza apenas pelo movimento físico das pernas indo ou voltando.
Os escravos
também têm pernas e andam. São escravos porque mesmo sabendo andar e podendo
olhar seguem aprisionados pela força do poder que os mantém enjaulados na
própria ignorância.
E assim, como os
déspotas fazem com a maioria do nosso Povo – quanto mais analfabetos, mais
ignorantes. E quanto mais ignorantes, mais manipuláveis. Como o voto da maioria
inconsciente é igual ao voto da minoria consciente, prorroga-se a pobreza
social e o atraso econômico.
Os mandões no plantão
mandam para as calendas a Democracia e para o inferno das pedras qualquer ideia
de Republica.
Mas, de que valem a
um Estado que pretendemos republicano e democrático essas multidões famintas
dos seus direitos humanos e sedentas de justiça social?
De nada quase vai nos
servir agora olhar para trás e só apontar culpados. Isso só não basta. Pesquisar
a história é da maior importância.
Assim falou
Santayana, o filósofo - quem não aprende com a história, estará sempre
condenado a vivê-la outra vez. A nossa história tem sido frustrante e horrível.
E o seu emaranhado de descasos e locupletamentos ainda não acabou.
Eles, os donos do
poder, tentam reescrever a seu modo a história do tempo nosso que atiraram ao
desperdício e nós aqui parecemos não nos importar.
Também por isso, reparando
bem, todos nós somos culpados. Na data de hoje ainda somos culpados.
Todos nós somos
culpados, no mínimo, pela imprudência de alguns movidos pelo oportunismo
pessoal ou pela negligencia de muitos que ainda se alheiam ou pela imperícia de
outros que se deixam iludir por miríades.
Enfim, todos nós
temos contribuído, ingenuamente ou não, para que não aconteça de forma verdadeira
a alternância no poder politico. Alternância tão reclamada conquanto
urgentemente necessária.
Nossa boa fé,
excessiva talvez, alertou os demônios da manipulação politica e lá se foi a
nossa inocência se achando a serviço do bem, mas na verdade contribuindo em
favor do mal. Somos culpados? Sim, contribuímos. Não negar isso ajuda a purgar
a culpa.
Não são culpadas as
multidões que somam a grande maioria entre os que têm o direito ao voto. Para
durar tanto, o poder politico foi tangendo essas pessoas, como se fosse gado,
para bem longe da verdade, isto porque eles, os poderosos e suas poderosas, mesmo não sendo nada sentimentais,
não são idiotas de não saberem que só a verdade liberta.
Daí o seu enorme
arsenal de mentiras e suas trombetas eletrônicas a disseminarem calunias,
injúrias, difamações e intrigas contra os que ainda ousam desafinar no coro dos
descontentes.
Como dizem os
portugueses num antigo provérbio, - quem viver, verá!
Nenhum comentário:
Postar um comentário