sábado, 17 de agosto de 2013

Milet

No Maranhão adia - se tudo, inclusive o futuro.

Num olhar de hoje até parecem inglórias as batalhas intermitentes, ao longo de vinte anos, nas trincheiras das Oposições.

Foi um tempo que parecia não querer parar. Um tempo que avançava nos calendários somando meses, queimando datas, reavivando esperanças por um futuro melhor somente possível, acreditávamos, quando alcançássemos a liberdade plena, melhor dizendo, a libertação política.

Era um tempo de dominação absoluta em que a sobrevivência com dignidade cedia na cumplicidade do silêncio, no conformismo entorpecido, no cala boca do empreguinho público – ou então aceitasse a taca ou fosse embora.

Eu, que não cansei de voltar, tive que ir algumas vezes.

O Brasil já se achava República e a Democracia por estas paragens era de araque, as raras liberdades públicas eram consentidas, um mesmo grupo dominava os Poderes do Estado – o Palácio dos Leões, a Assembléia, o Tribunal de Justiça, o Tribunal Eleitoral, o Tribunal de Contas, a maioria das Prefeituras, das Comarcas e das Promotorias. Venciam entre aspas todas as eleições.

Um mesmo grupo dominava as rádios mais potentes, a única televisão que apareceu depois, a Caixa Econômica, o Banco do Nordeste, o Banco do Brasil e a Estrada de Ferro S. Luis-Teresina.

Onde houvesse alguma réstia de poder, incluindo legendas de partidos, nada escapava da dominação.

A reação crescente foi se somando em vozes ativas e dentre os líderes de maior respeito os inesquecíveis Henrique La Rocque, Neiva Moreira e Clodomir Milet. Aos quais se somou depois o valente Alexandre Costa.

É sobre o Milet que eu quero falar.

O carisma e o discurso cativante do Neiva, a humildade franciscana do La Rocque cativando as pessoas simples do Povo com a sua simpatia e a pertinácia do Milet obstinado nos tribunais, combatendo as fraudes eleitorais, - sem eles, oh juventude deste nosso tempo, não teríamos as grandes histórias a nos inspirar na continuidade da busca por aquele futuro ainda hoje tão almejado.

O La Rocque era um advogado de grande prestigio nos Tribunais superiores. Foi ele quem tirou muita gente da cadeia, incluindo o Neiva, quando proliferaram as perseguições aos oposicionistas no Maranhão, após o golpe militar de 64. O Neiva era o jornalista do povo, o orador das multidões.

O Milet foi deixando aos poucos a dupla militância de médico pediatra e rábula dos recursos eleitorais até ser reconhecido nacionalmente como um dos maiores especialistas em direito eleitoral.

Quando as Oposições Coligadas venceram, após vinte anos de sucessivas derrotas, as eleições para o Governo do Estado, isto porque pela primeira vez os votos de mais de trezentos mil fantasmas não foram computados, os muros dos cemitérios guardaram por algum tempo um registro de gratidão – “Obrigado, Dr. Milet. Graças ao senhor não tivemos que votar nestas eleições”.

Milet não foi um político carreirista. Uma vez, mesmo sabendo que não tinha chances de vencer, assumiu a candidatura a Governador apenas para que as Oposições sempre unidas e coligadas não ficassem sem o seu candidato. Ficou sem o mandato de Deputado Federal, mas depois que os defuntos deixaram de votar ele se elegeu Senador.

Tive a ventura de ser testemunha e protagonista daquelas lutas em busca de um futuro bem melhor, o mesmo futuro até hoje adiado, de libertação política do Maranhão.

Um dia as Oposições Coligadas tiveram a ilusão de que tirando pelo voto aquela oligarquia de vinte anos, bastaria.

Hoje, sábado, dia 17 de agosto, transcorre o primeiro centenário de nascimento de Clodomir Teixeira Milet.

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