Sempre
ouvi dizer que de médico, de poeta e de louco todos nós temos um pouco. Ultimamente, atento a isso, ando querendo
saber onde estão os médicos e os poetas e onde andam os loucos.
Depois
que o Brasil descobriu o Fernando Pessoa e o Drummond ficou mais simples
entender a poesia e compreender os poetas. O mundo, a cada dia, mais carece da
poesia. Como dizia o velho Braga, a poesia é necessária.
Há
também esse traz-ou-não traz médico de fora. Até faz lembrar o tempo quando
havia estação de trem e as moças saiam pra lá querendo namorar rapaz de fora.
Essa
coisa de ser de fora tem lá o seu fascínio.
Quando
a fraude eleitoral no Maranhão chegou a um ponto que um doutor Milet sozinho
não dava conta das impugnações, o jeito foi mandar buscar advogado em São
Paulo. O doutor Ademar era quem mandava.
Depois,
na ultima ditadura militar, quando a fraude eleitoral pareceu até mais
blindada, o doutor Ulisses despachava para São Luís o doutor Marcos Heusi, que
adentrava o TRE na maior moral, inspirando esperanças.
Corria
uma fraude monumental nas apurações de Barra do Corda quando, a pedido do
Renato Archer, nosso então candidato a Governador pelo MDB velho de guerra,
doutor Ulisses me despachou pra lá. Eu advogava para o partido no TSE.
Rapaz
de fora, advogado de fora, medico de fora, sei não, parece que levantam mesmo o astral das mal amadas e dos oprimidos e dos injustiçados no lugar aonde chegam.
E
os loucos, é preciso que sejam de fora? Para o Código Civil Brasileiro eles são
tantos que sendo impossível alcançar a todos, a cada um na sua personagem, criou-se
uma moldura especifica para enquadrá-los. Segundo o Código, eles os são de todo o gênero.
Quando
os automóveis começaram a invadir as cidades o doutor Nicolau Tuma, um Deputado
da UDN de S. Paulo, relator do primeiro Código Nacional de Trânsito, teve o bom
senso de criar a exigência do exame psicotécnico para quem fosse tirar carteira
de motorista.
Ainda
assim a cada dia mais proliferam os loucos no trânsito.
Com
o surgimento de mais psicólogos no mercado o teste psicotécnico se estendeu
também aos concursos para alguns empregos públicos sendo imprescindível para
fazer as demais provas.
Muitos
candidatos a Juiz, reprovados no psicotécnico, foram impedidos, ainda bem, de
ingressarem na magistratura. Mas outros, e não foram poucos, conseguiram
mediante liminares em Mandados de Segurança seguir adiante.
O
tempo se encarregou de provar que na Justiça Federal, por exemplo, todos os que
haviam sido reprovados na prova do psicotécnico e que, ainda assim, passaram nas
demais provas e, por isso, tomaram posse, todos, mas todos eles, depois se
revelaram juízes-problema.
Nem
para Desembargadores dos Tribunais estaduais e federais, para Ministro do STJ,
do TST, do STM, do TSE, tampouco para Ministro do Supremo Tribunal Federal há a
exigência legal para que bem antes da sabatina no Senado se submetam às provas
do psicotécnico.
Pode
ser maluco, destrambelhado, grosseiro, complicado, desbocado, ignorante,
imprudente, debochado, mal educado, que pode ser Desembargador ou Ministro.
Pode ser Ministro até mesmo do Supremo Tribunal Federal que não tem problema. Não
tem problema.
O
problema maior é da nossa paciência. Eles também são vitalícios e nós temos que
lhes pagar o salário e ainda por cima aguenta-los.
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