sexta-feira, 26 de julho de 2013

Dominguinhos

Resolvido afinal que o resultado seria mesmo o empate, microfones desligados, câmeras focando adiante, o Silvio Santos me perguntou se eu era político no Maranhão e eu prontamente respondi – não! Ele riu me dizendo – é, não é, mas você leva jeito.

Prefiro sempre que não me confundam. Desde quando a política passou a ser meio de vida para os que não têm profissão definida e se a tem não conseguem sobreviver exercendo-a, e assim a banalizam, não me importo em gastar tempo explicando a diferença.

Conheço médicos que não sabem mais nada de medicina porque resolveram ser políticos. Apenas políticos banais. Ou seja, não sabem sobreviver a não ser do exercício dessas manhas e mentiras tidas como essenciais.

Claro que àquela altura, acusado de subversão, eu já havia sido Vereador preso e cassado, mas como nunca quis fazer da política um meio de vida, uma profissão, eu falei para o Sílvio não, eu não era político no Maranhão. O tempo correu a meu favor. Posso até ser poeta, sonhador, ativista, mas político banal, não!

Sofro de apneia do sono e se eu mentisse ou enganasse alguém aí é que eu não dormiria mesmo.

Mas quando o Silvio Santos, entre surpreso com a confusão que eu acabara de aprontar no Júri do seu programa, naquela tarde de domingo, me perguntou se eu era político foi porque eu, à moda mineira, conseguira dividir o prêmio do Troféu Imprensa, que parecia inteiro do Roberto Carlos, com o Gilberto Gil, que acabara de voltar ao Brasil vindo do exílio em Londres.

A música que o Gil gravara, sendo logo um sucesso, era “Só quero um xodó”, de Dominguinhos. (“Que falta eu sinto de um bem / que falta me faz um xodó / mas como eu não tenho ninguém / eu levo a vida assim tão só…”).

O Gil morava num apartamento na Venâncio Flores, no Rio de Janeiro, mas como artista ainda era assim meio proscrito. Seu exuberante talento e firmeza de caráter, aquela figura a la black power da capa do disco gravado no exílio em Londres, meio assustadora para o regime militar, parecia intimidar.

Quem era maluco, naquele Brasil super-vigiado, de se expor publicamente na mídia ainda sob censura em favor daqueles caras, tidos como inimigos do regime, como Gilberto Gil e Caetano Veloso? Logo o Gil que resolveu recomeçar pelo circuito Luiz Gonzaga no nordeste.

Quando o Lula chegava a Sergipe tinha o Britinho com um fusca para lhe dar carona e a mesma brincadeira – Lula, quando tu fores presidente, tu vais me nomear ministro do Supremo. Aquilo parecia uma quimera, mas aconteceu.

No Tirirical, em S. Luís, eu esperava o Gil e lhe dava carona no meu fusca. Já naquele tempo a sua música tinha mais influência popular do que a discursaria quase inteira dos políticos da oposição. (“Eu lhe disse, abre o olho / caiu aquela gota de colírio (…) nego, abre o olho…) Longe, muito além de mim, sonhar que nem o Britto. Ademais, o Gil nunca foi que nem o Lula, um político muito artista.

Numa das vezes o Gil trouxe, além do Rubão Sabino (“Tava comendo banana pro santo, pra quem? Pró santo, pra quem? Pro pai do espírito santo, senhor, pai de quem? / Pai do filho e do espírito santo… (…) Filho de uma localidade de lá, ah, ah,ah…”), trouxe o Dominguinhos.

Ficaram ali no Olho d’Água Parece Hotel, do Moacir, na praia do Olho d’Água, que era o mais chique e telúrico então.

Foi ali numa boca da noite, naquela praia, que baixou no Gil o santo daquela inspiração – “Se bem me lembro / a gente sentado ali / na grama do aterro / (...) amigos presos, amigos sumidos ali / pra nunca mais...”

O Gil estava sem arroz integral para a sua macrobiótica e saímos, no meio da noite, atrás de um endereço no Filipinho que ele trouxera num pedacinho de papel.

Aquele cara tímido e ostensivamente normal, no meio daqueles aparentemente inimigos de barbeadores, era o sanfoneiro da banda, ninguém mais que o Dominguinhos. No show no Teatro Artur Azevedo, arrasou. O Gil deu-lhe espaço para dois números solo e ele arrasou. Discretamente, saiu em ré da frente do microfone e retomou seu espaço na banda.

Roda, roda, roda, anos mais tarde, o Magno Bacelar, então dono da TV Difusora, vai à Globo, no Rio, e eu tendo lá o Zezão, amigo de infância em Caxias, assessor do poderoso Afraninho Nabuco, pedi que levasse a fita com o baião feito pelo Raimundo Costa, o Raimundão, filho do nosso amigo Alexandre Costa, para a minha campanha de Deputado Federal.

O Magno trouxe a gravação e, por acaso, quem estava no estúdio e gravou? O Dominguinhos. (“… na cabine eleitoral / eu vou dar meu voto certo / vou votar no Vidigal… / Do interior até a capital / só se canta um mesmo tom / só se fala em Vidigal…”)

O Dominguinhos foi o autor de “Só quero um xodó”, que fez tanto sucesso que as pessoas até pensam que o autor é o Gil.

Aquele quase fuzuê que eu aprontei fazendo mais animação  no Júri do Sílvio Santos para dividir o prêmio com o Gil não foi porque eu fosse contra o Roberto Carlos, não. Foi para lembrar ao Brasil que um exilado, o Gil, estava de volta com uma mensagem que, pelos acordes e letra, tinha tudo a ver com a reinserção do Brasil na emoção dos brasileiros.

Muito depois o Chico Buarque, brincando com o Dominguinhos na gravação de um disco, disse – eu estou te acompanhando pelo celular! O Dominguinhos morria de medo de viajar de avião. Uma vez eu contei essa a Dilma e ela se despediu de mim – eu estou te acompanhando pelo celular. Ao que respondi, e eu também.

O Dominguinhos, sim, é que desde ontem está acompanhando a todos nós pelo celular.

Edson Vidigal, ex-presidente do STJ e professor de Direito na UFMA, escreve para o Jornal Pequeno às quintas-feiras.

Um comentário:

Anônimo disse...

- dr. Vidigal quando voce passou pelo supremo tribunal qual foi o seu projeto para diminuir a criminalidade no nosso pais, sei que es bastante inteligente mas não substime niguem pois jeus na cruz não substimou o barrabaz, seja fiel e faça alguma coisa para diminuir a criminalidade voce tem força voce conhece a lei, me explique porque o direito do cidadão com 5 anos prescreve e quando o cidadão vai buscar um direito se passou de 5 anos o brasileiro perde o direito, conhece o caso de alguém que tinha um direito e perdeu ou isso e brincadeira de um juiz da e outro tira.