Resolvido
afinal que o resultado seria mesmo o empate, microfones desligados, câmeras
focando adiante, o Silvio Santos me perguntou se eu era político no Maranhão e
eu prontamente respondi – não! Ele riu me dizendo – é, não é, mas você leva
jeito.
Prefiro
sempre que não me confundam. Desde quando a política passou a ser meio de vida
para os que não têm profissão definida e se a tem não conseguem sobreviver
exercendo-a, e assim a banalizam, não me importo em gastar tempo explicando a
diferença.
Conheço
médicos que não sabem mais nada de medicina porque resolveram ser políticos. Apenas
políticos banais. Ou seja, não sabem sobreviver a não ser do exercício dessas
manhas e mentiras tidas como essenciais.
Claro
que àquela altura, acusado de subversão, eu já havia sido Vereador preso e
cassado, mas como nunca quis fazer da política um meio de vida, uma profissão,
eu falei para o Sílvio não, eu não era político no Maranhão. O tempo correu a
meu favor. Posso até ser poeta, sonhador, ativista, mas político banal, não!
Sofro
de apneia do sono e se eu mentisse ou enganasse alguém aí é que eu não dormiria
mesmo.
Mas
quando o Silvio Santos, entre surpreso com a confusão que eu acabara de
aprontar no Júri do seu programa, naquela tarde de domingo, me perguntou se eu
era político foi porque eu, à moda mineira, conseguira dividir o prêmio do
Troféu Imprensa, que parecia inteiro do Roberto Carlos, com o Gilberto Gil, que
acabara de voltar ao Brasil vindo do exílio em Londres.
A
música que o Gil gravara, sendo logo um sucesso, era “Só quero um xodó”, de
Dominguinhos. (“Que falta eu sinto de um bem / que falta me faz um xodó / mas
como eu não tenho ninguém / eu levo a vida assim tão só…”).
O
Gil morava num apartamento na Venâncio Flores, no Rio de Janeiro, mas como artista
ainda era assim meio proscrito. Seu exuberante talento e firmeza de caráter,
aquela figura a la black power da capa do disco gravado no exílio em Londres,
meio assustadora para o regime militar, parecia intimidar.
Quem
era maluco, naquele Brasil super-vigiado, de se expor publicamente na mídia
ainda sob censura em favor daqueles caras, tidos como inimigos do regime, como
Gilberto Gil e Caetano Veloso? Logo o Gil que resolveu recomeçar pelo circuito
Luiz Gonzaga no nordeste.
Quando
o Lula chegava a Sergipe tinha o Britinho com um fusca para lhe dar carona e a
mesma brincadeira – Lula, quando tu fores presidente, tu vais me nomear
ministro do Supremo. Aquilo parecia uma quimera, mas aconteceu.
No
Tirirical, em S. Luís, eu esperava o Gil e lhe dava carona no meu fusca. Já
naquele tempo a sua música tinha mais influência popular do que a discursaria
quase inteira dos políticos da oposição. (“Eu lhe disse, abre o olho / caiu
aquela gota de colírio (…) nego, abre o olho…) Longe, muito além de mim, sonhar
que nem o Britto. Ademais, o Gil nunca foi que nem o Lula, um político muito artista.
Numa
das vezes o Gil trouxe, além do Rubão Sabino (“Tava comendo banana pro santo,
pra quem? Pró santo, pra quem? Pro pai do espírito santo, senhor, pai de quem?
/ Pai do filho e do espírito santo… (…) Filho de uma localidade de lá, ah,
ah,ah…”), trouxe o Dominguinhos.
Ficaram
ali no Olho d’Água Parece Hotel, do Moacir, na praia do Olho d’Água, que era o
mais chique e telúrico então.
Foi
ali numa boca da noite, naquela praia, que baixou no Gil o santo daquela inspiração
– “Se bem me lembro / a gente sentado ali / na grama do aterro / (...) amigos presos,
amigos sumidos ali / pra nunca mais...”
O
Gil estava sem arroz integral para a sua macrobiótica e saímos, no meio da
noite, atrás de um endereço no Filipinho que ele trouxera num pedacinho de
papel.
Aquele
cara tímido e ostensivamente normal, no meio daqueles aparentemente inimigos de
barbeadores, era o sanfoneiro da banda, ninguém mais que o Dominguinhos. No
show no Teatro Artur Azevedo, arrasou. O Gil deu-lhe espaço para dois números solo
e ele arrasou. Discretamente, saiu em ré da frente do microfone e retomou seu
espaço na banda.
Roda,
roda, roda, anos mais tarde, o Magno Bacelar, então dono da TV Difusora, vai à
Globo, no Rio, e eu tendo lá o Zezão, amigo de infância em Caxias, assessor do
poderoso Afraninho Nabuco, pedi que levasse a fita com o baião feito pelo
Raimundo Costa, o Raimundão, filho do nosso amigo Alexandre Costa, para a minha
campanha de Deputado Federal.
O
Magno trouxe a gravação e, por acaso, quem estava no estúdio e gravou? O
Dominguinhos. (“… na cabine eleitoral / eu vou dar meu voto certo / vou votar
no Vidigal… / Do interior até a capital / só se canta um mesmo tom / só se fala
em Vidigal…”)
O
Dominguinhos foi o autor de “Só quero um xodó”, que fez tanto sucesso que as
pessoas até pensam que o autor é o Gil.
Aquele quase
fuzuê que eu aprontei fazendo mais animação no Júri do Sílvio Santos para dividir o prêmio com o Gil
não foi porque eu fosse contra o Roberto Carlos, não. Foi para lembrar ao
Brasil que um exilado, o Gil, estava de volta com uma mensagem que, pelos
acordes e letra, tinha tudo a ver com a reinserção do Brasil na emoção dos
brasileiros.
Muito
depois o Chico Buarque, brincando com o Dominguinhos na gravação de um disco,
disse – eu estou te acompanhando pelo celular! O Dominguinhos morria de medo de
viajar de avião. Uma vez eu contei essa a Dilma e ela se despediu de mim – eu
estou te acompanhando pelo celular. Ao que respondi, e eu também.
O
Dominguinhos, sim, é que desde ontem está acompanhando a todos nós pelo celular.
Edson
Vidigal, ex-presidente do STJ e professor de Direito na UFMA, escreve para o
Jornal Pequeno às quintas-feiras.
Um comentário:
- dr. Vidigal quando voce passou pelo supremo tribunal qual foi o seu projeto para diminuir a criminalidade no nosso pais, sei que es bastante inteligente mas não substime niguem pois jeus na cruz não substimou o barrabaz, seja fiel e faça alguma coisa para diminuir a criminalidade voce tem força voce conhece a lei, me explique porque o direito do cidadão com 5 anos prescreve e quando o cidadão vai buscar um direito se passou de 5 anos o brasileiro perde o direito, conhece o caso de alguém que tinha um direito e perdeu ou isso e brincadeira de um juiz da e outro tira.
Postar um comentário