quarta-feira, 29 de agosto de 2012

The Voice


Existem profissões em que a voz é a principal ferramenta de trabalho. O Lula, que é um comunicador por excelência, tem sofrido muito depois que um câncer, já extirpado, sentou praça na sua laringe.
Mesmo depois de liberado pelos médicos, o nosso ex-Presidente da República tem feito um esforço danado para falar. Agora é um edema na garganta e, por isso, sua voz mais rouca e num tom mais baixo.
Na semana passada, o Gilberto Gil – que teve há anos um calo nas cordas vocais, tendo que operá-las e, por consequência, que refazer a voz obrigando-se a cantar em tons mais limitados – mal começou um show no Teatro Nacional em Brasília e logo ficou sem voz.
Aquele era um show de uma turnê comemorativa dos 70 anos de idade do grande Gil, cujas canções fizeram mais pela volta da democracia ao Brasil do que muitos discursos em palanques pela aí...
O Lobão, não o nosso estimado roqueiro, mas o homem do PMDB nas Minas e nas Energias do Governo, tem um problema parecido, mas não só o disfarça bem, falando cada vez menos, até porque em boca calada não entra mosca, como a cada semestre vai a um especialista, o que fazia antes nos Estados Unidos, onde notou que o otorrino que o atendia na segunda ou terceira consulta havia trocado de sexo.
O Chico Buarque também teve um problema de voz, mas numa outra esfera. Obrigado a gravar um disco todo ano por força de um contrato com uma gravadora, a qual acabou vendida e ele igualmente no pacote, rompeu com tudo e ainda teve inspiração para ironizar a contenda numa canção, cujos versos são estes aí:
Até quem sabe a voz do dono
Gostava do dono da voz
Casal igual a nós, de entrega e de abandono
De guerra e paz, contras e prós
Fizeram bodas de acetato - de fato
Assim como os nossos avós
O dono prensa a voz,
A voz resulta um prato
Que gira para todos nós
O dono andava com outras doses
A voz era de um dono só
Deus deu ao dono os dentes
Deus deu ao dono as nozes
Às vozes Deus só deu seu dó
Porém, a voz ficou cansada após
Cem anos fazendo a santa
Sonhou se desatar de tantos nós
Nas cordas de outra garganta
A louca escorregava nos lençóis
Chegou a sonhar amantes
E, rouca, regalar os seus bemóis
Em troca de alguns brilhantes
Enfim a voz firmou contrato
E foi morar com novo algoz
Queria se prensar,
Queria ser um prato
Girar e se esquecer, veloz
Foi revelada na assembléia - atéia
Aquela situação atroz
A voz foi infiel, trocando de traquéia
E o dono foi perdendo a voz
E o dono foi perdendo a linha - que tinha
E foi perdendo a luz e além
E disse: "Minha voz, se vós não sereis minha
Vós não sereis de mais ninguém"
(O que é bom para o dono é bom para a voz
O que é bom para o dono é bom para vós
O que é bom para o dono é bom para nós).

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