segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Talarico

O Neiva e o Jackson, a estas horas, por onde andam eu não sei. Mas imagino a tristeza de cada um, a seu modo, com essa notícia da morte do Talarico, o grande José Gomes Talarico.

Naqueles tempos da agitação intensa, as emoções dividindo o País como se aqui só existisse o plenário da Convenção francesa, uns na direita e outros na esquerda, apenas isso, sem espaço algum para qualquer idéia alternativa, falar no Talarico era um abre alas sem cessar, uma certeza de divisão de águas, mas com muita inteligência e energia cívica.

O Talarico morreu hoje e se, ao contrário do poeta, não deixa uma herança de filhos e sonetos, lega a nós outros, ainda sobreviventes, uma história de lutas pelas idéias, história inserida na história do Brasil, que com a força do seu ideal ajudou a inscrever vivendo.

Talarico nasceu em São Paulo em 1915 e começou a trabalhar nas redações de jornais como repórter do "Correio Paulistano". Trabalhou na sucursal paulista do jornal carioca "A Noite" de 1937 a 1938, quando ajudou a fundar a União Nacional dos Estudantes (UNE).

Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1941. Como jornalista do jornal "A Noite", dedicou-se à cobertura do Ministério do Trabalho, tornando-se funcionário do próprio Ministério, a partir de 1942.

Em 1944, o ano em que eu nasci, participou das negociações pela regulamentação da profissão de jornalista e ajudou a fundar o nosso Sindicato no Rio.

Em 1945 participou da criação do PTB, o Partido Trabalhista Brasileiro, invenção de Vargas para acalmar o proletariado que, atraído pela industria têxtil e pela construção civil, crescia nas grandes cidades, notadamente no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e em São Paulo.

Participou do Movimento Queremista, que defendia a continuidade do Governo Vargas e a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte.

Em outubro de 1945, Jose Gomes Talarico foi preso ao tentar organizar a resistência contra a deposição de Vargas pelos militares. Em 1950, com a vitória de Getúlio, voltou ao Ministério do Trabalho e chefiou o serviço de imprensa de 1951 a 1953.

Talarico foi eleito suplente de Deputado Federal pelo DF em 1954. Em 1958 obteve nova suplência. Com a capital em Brasília, preferiu concorrer em 1962 a uma cadeira na Assembléia Legislativa do recém criado Estado da Guanabara.

Vice-Presidente da Assembléia Estadual Constituinte e muito atuante nos embates com os grupos políticos fiéis ao então Governador Carlos Lacerda, Talarico foi um dos principais assessores sindicais de João Goulart nos anos que antecederam o golpe militar de 1964.

Durante a última ditadura militar, Talarico teve o mandato cassado e foi preso diversas vezes. Na transição democrática, ajudou Brizola na organização do PDT. Em 1982, foi eleito deputado estadual pelo Rio. Exerceu a liderança do governo Brizola na Assembléia até o ano de 1984, quando foi eleito pela Assembléia para o Tribunal de Contas do Estado.

Aposentou-se do Tribunal em 1986, após o que passou a trabalhar como Diretor da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).

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