terça-feira, 30 de novembro de 2010

Dominguinhos

Ainda havia em São Luis perto da praia o hotel do Moacir, o Olho Dágua Pálace Hotel, que o Sarney provocando o Moacir chamava de Olho Dágua Parece Hotel. Eles eram amigos. Muito amigos.

No hotel do Moacir perto da praia do Olho Dágua se hospedavam Ministros da ditadura como o sempre sorridente Coronel Andreazza e artistas da animação e do protesto como Elza Soares e Gilberto Gil.

Numa dessas suas idas a São Luis o Gil me apresentou o Dominguinhos, que não era ainda a cobra criada que com o tempo a gente ficou conhecendo. Sanfoneiro da banda, Gil lhe dava espaço.

Generoso, o Gil fazia isso muitas vezes também com os outros como o Perna, o baterista, o Rubão Sabino, o baixista. Dentre os que eu bem me lembro.

Agora, aos 70 anos, com um pulmão a menos e com problemas no que restou, Dominguinhos pega na sanfona, puxa o fole correndo os dedos no teclado, e pronto. Está aí o homem inteiro.

("Se o calendário acabar / eu faço contar o tempo outra vez/ sim, tudo outra vez a passar...")

Em Juazeiro, Bahia, onde se apresentou no 2º Festival Internacional da Sanfona, Dominguinhos deu entrevista a Plínio Fraga, da Folha de São Paulo. E terminou assim:

Plínio Fraga – O Nordeste apóia Lula, seu conterrâneo de Garanhuns, mas o senhor está desgarrado dessa turma.

Dominguinhos – O papel dele é este: o novo coronel do voto de cabresto. Tudo aconteceu nesse sentido. A gente vê menina nova tendo filho para ter dinheiro. Não gosto disso. O nordestino é muito trabalhador se não tiver moleza. Se achar uma moleza, não trabalha mais.

Hoje em dia nem roupa usa. A moçada bota um short, uma camiseta, fica de sandália. Só quer aquela mixaria para sobreviver.



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