quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A Mais Garrida

No Brasil é assim. À menor revolta, ao maior vexame, providencia-se logo uma lei.

Ou se o Governo está forte e não cede ou não concede, que tal emparedá-lo com uma CPI?

Quando a atriz adolescente filha da autora da novela foi brutalmente assassinada pelo ator personagem na trama a tesouradas, um crime bárbaro, premeditado, friamente executado, acionando-se a iniciativa popular em milhões de assinaturas num projeto enfiado ao Congresso goela abaixo, o Código Penal foi acrescido com a lei dos crimes hediondos, uma lei, aliás, hedionda quanto à constitucionalidade e como se todo homicídio doloso não o fosse hediondo.

Sem apoio popular, Sarney quase caiu quando o Senado lhe emparedou com uma CPI da Corrupção. Os alvos não eram muitos, ainda estão vivos, alguns muito vivíssimos.

A valentia e o crédito político de Alexandre Costa impediram que o Secretário Particular do Presidente e a Ferrovia Norte-Sul à época fossem alcançados de morte pelo desiderato da Oposição.

Perdendo apoio popular, Collor desafiou e perdeu. A CPI conhecida como do PC Farias deu o mote para sua derrubada.

Com forte apoio popular, Lula, ainda assim, pega umas CPIs pela frente. Agora tem essa da Petrobras, perdida ab ovo, quer dizer desde o inicio.

Agora, foi só aquela loura que ficou conhecida por escancarar as axilas ao cantar as Paralelas de Belchior, a Vanusa, errar a letra do Hino Nacional ao puxar um coro de deputados que o entoavam na Assembléia de São Paulo, e logo saiu uma lei do Congresso Nacional, imediatamente sancionada, obrigando todos os alunos a cantarem o hino pelo menos uma vez por semana nas escolas.

Grande novidade!

Desde 1936 que há essa obrigação de cantar o Hino Nacional nas escolas.

No Grupo Escolar Gonçalves Dias, onde nem completei o primário, em Caxias, as aulas não começavam sem que todos perfilados num salão ouvissem antes uma preleção religiosa e depois cantassem três hinos – o Nacional, o do Estado e o de Caxias.

As dificuldades estavam nas letras do Nacional e do Maranhense.

Ninguém explicava o sentido de algumas palavras. Por que a terra é mais garrida?

Como ninguém sabia o que era garrida, o ouvido falava mais alto, afirmativo, por que a terra é margarida. A pegadinha em que muitos caem ainda hoje está na segunda parte, quando se repete a mesma melodia da primeira.

Assim, na primeira. Brasil, um sonho intenso, um raio vívido, de amor e de esperança à terra desce. Na segunda, no mesmo tom e melodia, Brasil, de amor eterno seja símbolo, o lábaro que ostentas estrelado.

Esse palavreado, vívido, garrido, lábaro, funde ainda hoje a cabeça das crianças e por uma razão só.

Ninguém na escola explica o significado dessas coisas no hino. Para as crianças monoglotas no geral, cantar o Hino é algo como cantar Madona ou Michael Jackson, ritmos animados, mas sem entender nada. Tudo em inglês.

O Hino do Maranhão tem palavreados e simbologias que na realidade de hoje ensejam interpretações gaiatas.

E aquele verso: expulsastes o flamengo aventureiro ainda hoje é adaptado conforme o time pelo qual a criança torce: expulsastes o Sampaio aventureiro, ou o Vasco aventureiro, completando, e o mandastes ao mar buscar guarida.

Criança que não sabe o que é guarida logo acha que achou a palavra certa e a encaixa no verso: e o mandastes ao mar buscar guariba...

A comunicação, desde o Talmud a MacLuhan, depois Dino Preti, sempre fez com significantes e significados. Não adianta obrigar a cantoria dos hinos nas escolas.

É preciso explicar o que cada palavra em cada verso quer dizer aos sentimentos cívicos não só das crianças, mas também de todos nós. Inclusive dos deputados e da nossa estimada e queridíssima cantora Vanusa.

Essa lei recente sobre a obrigatoriedade mostra o quanto o Brasil vai mal, o Maranhão inclusive, em matéria de Senadores e também de alguns Deputados. Até quando eles querem mostrar trabalho, como neste caso, alguém já o fez antes.

O decreto de 1936 de Vargas só foi mexido pelos militares da ditadura de 1964 em 1971, quando sancionaram a lei 5.700/71.

Essa lei de agora, lei 12.031/09, é de um projeto que tramitava há 09 anos na Câmara e que logo depois do vexame da loura errando a estrofe com os deputados estaduais paulistas foi desencavado para se transformar em ordem legal.

Um comentário:

Alex Gomes disse...

Quanta perseguição! A crise já acabou mesmo assim insistem no assunto.