domingo, 19 de julho de 2009

Sinos de Finados

O GLOBO: Sarney tem razão ao alegar que a crise só existe por ele ser aliado do governo?

MARCO ANTONIO VILLA: É verdade, não é só o Sarney. O Senado teve outros presidentes e Mesas compostas por vários senadores. Quer dizer, a crise é do Senado. Mas não é só do Senado. É do Senado e do Sarney. Afinal, ele já tinha sido duas vezes presidente do Senado.

As denúncias contra Sarney já são conhecidas no Maranhão há muito tempo. O que está sendo denunciado agora, em esfera nacional, a oposição fala no Maranhão há quatro décadas. No Maranhão todo mundo sabe! E isso está sendo muito positivo porque a nação está conhecendo quem é o senador José Sarney. Isso é bom, muito produtivo.

Por que produtivo?

VILLA: Sarney é o cacique que está há mais tempo na política brasileira, é extremamente nocivo.

Toda essa crise que ele está vivendo me parece uma espécie de dobra de finados. A partir dali, acho que é a morte política do Sarney. Ele está caminhando para essa morte política.

Evidentemente, ele ainda tem um poderzinho, mas já não tem mais o mesmo poder que tinha.

O que poderia significar essa morte política de Sarney? VILLA: No Maranhão, Sarney deu um golpe de Estado com o auxílio do Tribunal Superior Eleitoral (sua filha Roseana assumiu o governo).

É algo absurdo! Nunca vi isso. A derrubada de Jackson Lago é algo gravíssimo para a democracia brasileira. E houve um silêncio nacional. É bom lembrar que a presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão (Nelma Sarney) é cunhada dele.

E ele já tinha dado um golpe de Estado gravíssimo no Amapá.

Teve a eleição do João Capiberibe (PSB-AP), e por compra de dois votos a R$ 24 cada um. Um escândalo. Isso mostra que ele tem muita força política no centro do poder. Mas, com a crise de agora, essa força diminuiu sensivelmente.

Acho muito positivo porque um dos obstáculos para a plena consolidação da democracia brasileira é o poder coronelístico.

E o símbolo maior desse poder é Sarney.

Para o senhor, Sarney é o grande coronel do Brasil?

VILLA: Sarney é o símbolo maior desse poder dos coronéis.

Por isso essa crise é extremamente saudável. Estamos caminhando para virar a página, para o fim desse poder antidemocrático representado pelos oligarcas.

E o maior deles é Sarney.

Qual a dimensão dessa crise atual do Senado?

VILLA: É certamente a maior crise da história do Senado.

Sinceramente, desde 1890, na primeira eleição da República, quando foi criado o Senado republicano, não me lembro de outra crise tão grave e tão longa como esta que estamos vivendo.

É gravíssimo ter uma Casa onde a direção política era dada por um funcionário, o diretor-geral. É o único Senado do mundo ocidental em que a direção política é dada por um funcionário.

O Senado brasileiro é uma "casa de horrores", como definiu a revista britânica "The Economist"?

VILLA: Infelizmente, é triste, mas verdadeiro. É uma casa de horrores, mesmo! A nomeação de Paulo Duque (PMDB-RJ) para presidir o Conselho de Ética é um escândalo. Imagine, é um suplente! O conserto pode ser dado pelo eleitor daqui a um ano, quando forem renovados dois terços do Senado.

Para o senhor, só o eleitor pode mudar o Senado?

VILLA: Se não acreditarmos nisso, não há saída. A única saída é que o eleitor tenha consciência. E o eleitor de todos os estados. A gente, normalmente, imputa ao eleitor dos estados mais atrasados eleger qualquer senador.

Mas São Paulo, por exemplo, tem um senador que está fazendo papel pífio nesta situação, que é o Aloizio Mercadante. O outro, Romeu Tuma, que é o corregedor, é omisso. E veja o caso de Minas Gerais, que tem um suplente, o Wellington Salgado, exercendo a senatoria há quatro anos...

O senhor disse que a Justiça tem sido omissa em relação às denúncias no Senado.

VILLA: Essas denúncias são gravíssimas. A cada dia tem uma, duas, três... Aí é papel da Justiça. Mas a grande questão é que a Justiça é omissa. Foram crimes gravíssimos cometidos no Senado e com a absoluta omissão da Justiça.

O Executivo pode governar à margem da fiscalização de um Congresso paralisado? 

VILLA: Os poderes conferidos pela Constituição de 1988 a Executivo, Legislativo e Judiciário nem sempre são claros. Por incrível que pareça! Já são mais de 20 anos com a Constituição.

O que pode acontecer com o esvaziamento do poder político do Congresso? 

VILLA: A saída é, de um lado, o eleitor renovar seus representantes, tanto no Senado como na Câmara. De outro, no caso de crimes, a ação da Justiça.

E o terceiro caminho, que também é muito difícil que ocorra, é o Executivo ter uma nova relação com o Legislativo.

Esse também é um problema grave. O Executivo compra maiorias no Legislativo. Nas esferas das prefeituras, dos estados e, no caso do governo federal, isso é explícito. E essa compra de maioria acaba fortalecendo, no caso do Senado, especificamente os senadores que são "menos identificados com os valores republicanos", para ser educado.

Quais senadores o senhor diz serem "comprados"?

 VILLA: São senadores com pouquíssima participação nos grandes debates nacionais. E são comprados. Essa maioria comprada tende também a ter um momento de mudança. Se o eleitor pode mudar isso ano que vem, na eleição, a Justiça pode mudar agindo, o Executivo pode mudar também.

Mas como ele pode mudar essa relação perversa com o Executivo, independentemente de que presidente seja eleito em 2010? Que (o candidato) busque uma aliança programática, estabelecendo pontos programáticos, e explicite isso à população na campanha e, especialmente, antes de tomar posse.

Essas alianças programáticas podem se contrapor à compra da maioria? 

VILLA: Sim. Aliança na base do "é dando que se recebe" é crise inevitável. Se olharmos o Congresso nos últimos 15 anos, é difícil encontrar um ano que não tenha um problema. Ou gravíssimas crises. É por causa dessa relação perversa do Legislativo com o Executivo, essas compras de maioria.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Ministro Vidigal, boa noite. Tomara que o domingo tenha sido ao seu gosto, na fazenda do interior com o café da manhã repleto de leite de vaca com abóbora cozida, coalhada, cuscuz de milho não-refinado, batata dôce cozida, café preto torrado no alguidá de barro e pilado no pilão de madeira. Sem pão fermentado, sem iogurtes químicos, sem Nescafé. Tomara que tenha sido um domingão, com balançar na rede de algodão na varanda aberta para o campo.
Pois, contava Moisés Matias de Moura, um cordelista cearense, pelos idos de 50 e 60 e poucos, a luta titânica de um dos últimos coronéis nordestinos, contra o Diabo, na chegada ao Inferno. Moral da estória: nem o Diabo queria o sujeito e tampouco o Inferno lhe caberia. Coronel nascido lá pelas bandas dos Inhamuns, alto e miserável sertão cearense, onde, água, nalgumas épocas do ano, só em fotografia. Não vou dizer o nome do tal coroné porque, aquele tal, hoje, seria fichinha diante do coroné da moda atual. O certo é que, barrado na porta do Inferno, o coroné que se auto-denominava mais esperto que o Demo, pelo menos na literatura de cordel de MMM (Moisés Matias de Moura), foi mandado de volta para a terra e, ainda segundo o cordel, teria escolhido viver vampirescamente no Maranhão, escondido das cruzes de madeira e dos martelos. Cruz credo!
Outro cordel de MMM fala de um pródigo empresário, "Criador de Minhocas" que descobriu serem as terras do Maranhão muito férteis e próprias para a sua desenvoltura empresarial. Teria chegado aqui e teria procurado "comprar" aquele terrenão ali do Campo de Perizes. Procurou, procurou e acabou sendo informado que, anos antes, alguém que não tem parelha andou espalhando que, por ali, era um arrozal. O já chamado "Rei das Minhocas" procurou o dito cujo e, no início da conversa foi logo sendo avisado: "só com sociedade meio-a-meio". Não Ministro, não era o Dono do Mar. Era o plantador de arroz no Campo de Perizes. O Rei das Minhocas desistiu e voltou para a terra dele, rezando para que o inverno começasse mesmo no dia 19 de março (Dia de todos os São Josés) para, só então, iniciar a produção das tais minhocas deles. Durma-se com uma minhocada dessas!