quinta-feira, 2 de julho de 2009

Pause

Do encontro entre Sarney e Lula sairá o que muitos de há muito esperam ou o que outros ainda esperam.

Sarney renunciará mesmo à Presidência do Senado ou ficará no cargo, leia-se, mais ainda nas mãos de Lula, entronizado mas sem força alguma como um hierarca de Saló.

(Perguntas ao Google – República de Saló e então saberás melhor.)

Janio Quadros usava muito a renuncia como arma sempre que, em meio a impasses, queria se fortalecer, emparedando, de preferência, os donos dos partidos que queriam tutelar-lhe. Dava sempre certo.

Quando a UDN lhe impôs Leandro Maciel como seu Vice, um honrado Senador de Sergipe, porém um tremendo mala eleitoral, Janio ainda viajou com ele pelo nordeste, mas logo viu que aquele Vice não ia dar certo.

Renunciou à candidatura, foi um Deus nos acuda, chama o Lacerda, fala com o Magalhães Pinto, mobiliza o Herbert Levy, o Bittencourt do Correio da Manhã, o Dantas do Diário de Noticias...

Os rapazes da juventude janista foram às ruas, o Povo foi se mexendo, todos queriam Janio Presidente e então Janio renunciou à renúncia, firmando-se como candidato mas com o Vice que ele queria, o Senador Milton Campos, da UDN de Minas.

Naquele tempo o Vice era candidato avulso. Você podia ser registrado com um candidato a Presidente do seu partido ou coligação mas o voto não era casado. E aí o doutor Milton Campos não foi eleito Vice. Perdeu para Jango Goulart.

Janio Presidente, Jango Vice, o Congresso Nacional ainda não era bem isso que está aí, mas já andava assim meio Dorival, bem devagar. Não havia decurso de prazo, nem decreto - lei, nem medida provisória. Janio tinha pressa mas não conseguia impor o seu ritmo pessoal ao seu Governo.

Bolou renunciar imaginando que o Povo fosse às ruas pedindo para ele voltar. Voltaria, sim, mas só com a condição de o Congresso votar uma reforma constitucional em que lhe dessem um instrumento de ação para fazer andar o Governo. Os militares coesos ao seu lado intimidariam o Congresso, se necessário.

Janio não queria muito. Nada mais do que todos os Presidentes depois passaram a ter. Os militares tiveram o decreto – lei com o decurso de prazo. Os civis, as medidas provisórias. O que seria de Lula hoje sem as medidas provisórias?

Janio redigiu um bilhete renunciando. Tudo de agá. O Povo não foi às ruas. E deu no que deu.

Vamos esperar hoje no que vai dar essa renúncia de Sarney.

Se é mesmo para valer, se é uma coisa de quem se julga com uma história de vida a preservar ou se é cópia em papel carbono de alguma renúncia de Janio, datilografada em remington cata milho. Daquelas bem antigas e muito barulhentas. Janio teclava telex, mas como professor à moda antiga adorava escrever à mão.

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