quinta-feira, 25 de junho de 2009

Sem Anestesia

O que você vai ler a seguir é o artigo do cientista político Murilo Aragão em que ele analisa a crise do Senado. O texto foi veiculado há pouco pelo blog do Noblat.

"Na semana passada, o presidente José Sarney tentou reverter com um discurso em plenário o fortalecimento da corrente que defendia sua renúncia. Ganhou apenas a solidariedade do presidente Lula e um pouco mais de tempo para tomar medidas concretas que tirem o Senado da berlinda.

A verdade é que Sarney está comprometido até o talo com as irregularidades administrativas ora descobertas. Seu jogo será o de ganhar tempo até que a imprensa enjoe do tema. É a tendência predominante, já que não interessa ao governo a morte política de Sarney. Ruim com ele, pior sem ele.

Sarney é uma espécie de poder moderador nas relações do governo com o PMDB. Ainda que não seja confiável, como se viu no episodio da instalação da CPI da Petrobras, quando ele não moveu um dedo para ajudar o governo. Além do mais, não existe alternativa a Sarney. Renan Calheiros, outro pólo de poder em franca recuperação. Ser líder do PMDB está de bom tamanho.

No PT, há quem comemore muito o desgaste de Sarney. O partido se sentiu traído pelo PMDB. Achava-se no direito de comandar o Senado, uma vez que apoiou a candidatura de Michel Temer (PMDB-SP) para a presidência da Câmara. De certa forma, tem toda razão. Até mesmo o presidente Lula teria ouvido de Sarney que não seria candidato.

Depois, docemente constrangido, mudou de idéia. Ganhou e mergulhou o Senado em uma das mais graves crises de sua história, pois, a exemplo de situações limites da nossa história, os vencidos não respeitaram o resultado do jogo e deflagaram uma guerra de foice no escuro, como dizia Tancredo Neves.

A rigor, Sarney deveria renunciar bem como os demais membros da atual mesa. Uma nova eleição deveria ser feita, além de uma ampla auditoria externa e independente nas contas do Senado. Porém, nada disso vai acontecer. Pelas seguintes razões: a oposição está desarvorada e acoelhada diante do assunto. Teme ser atingida por acusações graves.

Para a sociedade, a crise do Senado é mais uma que acontece das inúmeras que já aconteceram. No governo, a crise – se não é boa – também não é tão ruim desde que a imagem do presidente seja preservada. Assim, o que deve prevalecer é o imobilismo e o desinteresse geral. Ou seja, daqui a algumas semanas a imprensa baixa o tom e vai atrás de outro tema. Aos poucos, Sarney recuperará a mobilidade política e tudo ficará como dantes no quartel de Abrantes. Essa é a tendência predominante.

No entanto, sempre existe um "porém". Nesse caso, a crise do PMDB no Senado tem vários pontos de interrogação. Um deles se refere a relação do partido com o PT na sucessão. O governo sabe que o PMDB será vital na disputa em 2010. Principalmente, por causa do tempo de televisão.

Por outro lado, parte do PMDB se sente tentado em se juntar a Serra. Alguns acham que, independente de quem ganhar, o partido será parte do governo. Assim, o ideal é lançar um candidato próprio e alavancar alianças regionais. Não são opções fáceis.

Faltando pouco mais de dezoito meses para o fim da "Era Lula", o quadro político tende a ser cada vez pior. E, neste momento, o governo está paralisado e sem iniciativa. Esperando a fogueira do Senado baixar. Não é o ideal. É o que resta fazer. Até mesmo pelo fato que de a sucessão de 2010, seja qual for a chapa governista, será decidida pelo ambiente econômico que dificilmente será impactado negativamente pelas trapalhadas de nosso sistema político."

Um comentário:

Anônimo disse...

Ola Ministro Vidigal, boa noite. Li, reli, "trili" e cheguei a duas conclusões: "não aprendi nada na vida" e o tempo que queimei pestanas nas lamparinas estudando, foi uma "total perda de tempo".
Me pareceu que o Cientista Político Murilo Aragão, ou estava dando uma aula para alunos do Curso Maternal ou para Membros do Itamaraty.
Não que eu esteja defendendo agressões, baixarias, injustiças, adjetivos impróprios ou qualquer tipo de agressão a Sarney. Estou defendendo "objetividade" sem linguagem rebuscada. A mesma linguagem que usam Arnaldo Jabour ou Jânio de Freitas.
Na quarta re-leitura concluí que o Cientista Político Murilo Aragão, "tucanou" definitivamente. Quero dizer, "subiu literalmente no muro".
Ora, o que significaria dizer "docemente constrangido"?
Quem viu na tv o pronunciamento de Sarney, percebeu que ele tremia igual vara verde de marmeleiro - há quem afirme que ele estaria acometido do mal de Parkinson - numa ventania mais forte. E a tremedeira não era mal de Parkinson coisa nenhuma, tampouco um "doce constrangimento". Era uma pura demonstração de quem estava "pê" da vida por ter sido pego com a boca na botija e por estar sendo diretamente responsabilizado por todos os maus momentos que o Senado está vivendo desde a assunção dele na Presidência. Aqui perto da minha casa, um amigo cria um cão da raça Dobermann, doce, manso, alegre, que vira uma fera quando é flagrado fazendo uma traquinagem. Não, nenhuma comparação ou correlação. Apenas uma lembrança.
E o que o nobre cientista político quis dizer, quando escreveu: "a oposição está desarvorada e acoelhada diante do assunto. Teme ser atingida por acusações graves."?
O meu raciocínio de homem simples e pagador de poucos impostos porque meu salário não me permite pagar além daquilo que pago quando consumo um pão, carne, leite, me leva a pensar que essa "oposição" aí que ele fala, está mesmo é enrolada até o pescoço e, ficou demonstrado, também, que totalmente comprometida pela conivência. Estou errado? Ou a "Ciência Política" prefere adjetivos rebuscados para enfeitar o pavão e deixar tudo no muro? Por conveniência também, claro!
Agora, Senhor Ministro, ícone atual da terra de João Coelho Neto, avô do ex-grande jogador Preguinho, me diga uma coisa: se isso tudo estivesse acontecendo com um reles (que me perdoe quem se ofender) Presidente de Câmara Municipal de um interiorzinho lá onde o Diabo perdeu as duas botas e começou a andar descalço na terra quente até os pés encherem de bolhas, o tratamento estaria sendo o mesmo?
Por isso, quando em participação anterior me referi ao Artigo 5º da Constituição Brasileira, posso até ter ofendido os legisladores corretos desse país, mas disse que "pobres e pretos" não são tratados como iguais. Ou são? E, Ministro, como vão mesmo as coisas em Brasília? Abraços respeitosos.