quarta-feira, 9 de julho de 2008

O Inferno de Dantas, 2 - O Fofão

Por Roberto Cordeiro

O banqueiro Daniel Valente Dantas pode ganhar a liberdade dentro
das próximas semanas (decisão desta tarde pede mais informações sobre a prisão) . Repousa sobre a mesa do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, pedido de habeas-corpus para retirá-lo da carceragem da Polícia Federal em São Paulo. Dantas foi preso ontem (8 de julho) na mesma Operação Satiagraha que levou para a cadeia o ex-prefeito Celso Pitta, o especulador financeiro Naji Nahas, e outras 21 pessoas ligadas ao esquema da quadrilha.

O pedido havia sido encaminhado ao ministro Eros Grau quando os advogados de Dantas souberam da articulação da PF para prendê-lo junto com seus familiares e auxiliares diretos. O assunto virou matéria na Folha de S. Paulo, num sábado, 26 de abril de 2008. Nos bastidores, o caso gerou inquietação na equipe do delegado da PF Protógenes Queiroz. A prisão da jornalista Andréa Michael, da Folha, foi pedida, mas negada pelo juiz federal Fausto Martin de Sanctis.

Nesta intrincada rede de amizades, favorecimentos, informações privilegiadas, etc e tal, há uma notícia que deixa o leitor com a pulga atrás da orelha. Dentro da tentativa de subornar com US$ 1 milhão ao delegado Vitor Hugo Rodrigues Alves Pereira, um emissário do banqueiro disse que ele (DD) queria livrar-se da investigação, junto com a irmã Verônica e o filho dela.

A imprensa traz hoje (9 de julho) com todas as letras: “Ele diz que Dantas estava preocupado com o processo em primeira instância, uma vez que no STJ (Superior Tribunal de Justiça) e no STF (Supremo Tribunal Federal) ele resolveria tudo”. Não parece estranho isso exatamente agora em que cabe ao Supremo decidir a liberdade de Dantas? Não seria mais prudente enviar o pedido de HC para o juiz Martin de Sanctis e pedir ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para apurar tais declarações?

Os tentáculos de Dantas são maiores do que o mais simples cidadão possa imaginar. DD gravita pelos três poderes da República. E a tal operação não foi mais ampla porque para colocar as mãos do braço parlamentar do banqueiro necessitaria de autorização do STF. E o senador Heráclito Fortes (DEM-PI) sentiu o golpe. Possível líder da bancada do banqueiro, Fortes se defende numa matéria de pé de página na Folha.

Fortes alega que vem sendo seguido e monitorado pela PF. Ele acusou o PT de estar envolvido nas ações da federal contra ele. “Na semana passada, esse pessoal, o que eu já desconfiava, foi ver um terreno meu aqui em Brasília. Subiram no muro, chamaram um rapaz do posto de gasolina para saber informações sobre mim”, afirmou o senador à Folha.

Heráclito nega qualquer tipo de operação financeira com o Opportunity de Dantas. E foi enfático: “Eu renuncio ao mandato se surgir uma operação sequer. Eu não tenho conta no Opportunity, eu não tenho movimentação financeira em lugar nenhum”, insistiu ele ao mesmo jornal.

Fortes diz que tem contas no Banco do Brasil e na Caixa. Então, como se explica a veemente defesa de Dantas? Ou seria ingenuidade acreditar que simpatia é quase amor? Por baixo deste angu há muito caroço. Me compre um bode…

(Roberto Cordeiro, ex Assessor de Imprensa da Presidencia do STJ, é jornalista em Brasilia e editor do blog Diário de Bordo - www.robertocordeiro.wordpress.com)

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